quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Balada da Neve

Para todas as crianças que neste Natal não têm abrigo nem carinho!



Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil

3 comentários:

Phantom of the Opera disse...

O branco revela pureza...

Feliz Natal
Beijo para as duas

Anónimo disse...

Boa noite, navegando encontrei sua página, muito linda e inspiradora, parabéns!! Estamos em época de confraternização, de refletirmos, de pensarmos nos momentos passados e fazer planos para o futuro, afinal um Ano Novo se inicia. Temos que aprender olhar para o tempo que se foi com a convicção de ter aprendido, ter a certeza do dever cumprido; vamos entrar o Ano Novo com o sorriso do amor, vamos olhar para o tempo que se foi com mãos limpas e coração limpo, sem mágoas pela dor sentida, não vamos permitir que nossos corações fiquem escondidos nas desilusões, vamos investir naquilo que edifica; vamos edificar nossas vidas na solidariedade, na amizade e principalmente no AMOR ao próximo e na FÉ em Deus! Chegamos ao final de mais um ano, de mais uma etapa de nossas vidas; momentos de alegria, desafios e muitos obstáculos superados. Chegou a hora de confraternizarmos na expectativa de mais um ano, com esperança de grandes realizações. Que a paz e o amor habitem em nossos corações. Desejo a você um 2008 repleto de muito amor, saúde e paz.Abraços fraternos do amigo.

Anónimo disse...

Augusto Gil é simbolista da melhor cepa e, jurista, quantos poemas não fez evocando artigos do Código Civil Português!